quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre Pais, Filhos e Monitores de Parque Inflável


Aos que não sabem (e também aos que sabem), eu trabalho com crianças desde quando eu ainda era criança! Antes com as peças de teatro, depois no Projeto Social Vagalumes e atualmente dando aulas e fazendo recreação. E eu já trabalhei com crianças de todas as idades, etnias, classes sociais e histórias de vida possíveis e imagináveis. E nesse caminho de dores e delícias eu aprendi muita coisa sobre crianças, sobre filhos, sobre pais e sobre trabalhar com crianças. É coisa difícil mas prazerosa. Elas são surpreendentes e conseguem renovar nossas energias ao mesmo tempo em que a suga por completo. O cansaço de trabalhar com crianças é um cansaço diferente... é um cansaço gostoso, que desgasta a gente mas dá prazer, satisfaz, alegra. Quando eu estou com elas eu aprendo muito mais do que aprendo quando estou cercada de adultos diplomados. Elas me ensinam a ser mais sensível com o mundo, a olhar mais prá fora, a simplificar as coisas. Já perdi as contas de quantas vezes cheguei exausta, desanimada, sonolenta e saí pulando, rindo, cantando. Eu sempre acho que me divirto com elas muito mais do que elas comigo.
Sim.. são umas pestes! Por deus... como conseguem ser tão doces e divertidas e ao mesmo tempo tão elétricas, malcriadas, difíceis de lidar! Eu demoro meia hora prá fazê-las entender que têm que formar uma fila e que não podem se jogar dos brinquedos senão vão se estabacar no chão. Tem umas que às vezes quero puxar a orelha e prender de ponta cabeça no ventilador... daí elas olham prá mim com uma cara de deboche/sapeca e caem na risada (porque eu devo mesmo ter cara de besta!rs)... e eu esqueço da bronca e me jogo com elas.
Enfim... mas tem algo que me cansa muito mais do que as crianças: os pais!
Eu sou da seguinte opinião: filho é escolha! Salve raríssimas excessões todos nós temos acesso a informação. Todo mundo sabe como se faz filho, todo mundo sabe como evitar filhos (e é coisa que temos gratuitamente no nosso precário sistema de saude), e em caso de acidentes, todo mundo sabe o que fazer no dia seguinte! Sendo assim, é escolha, e uma escolha muito séria! Escolher ter um filho não é como escolher comprar uma bolsa, nem um carro ou um apartamento. Esses ultimos a gente pode vender, trocar, abandonar caso encham demais a nossa paciência... criança não! Filho é prá sempre e ponto final... não é como brincar de boneca, nem como ter um sobrinho ou 120 alunos! Filho a gente não devolve no fim do dia. E isso a gente sabe mesmo sem sermos pais, certo!?
Tenho observado muito a relação pais-e-filhos nos trabalhos nas escolas, projetos sociais e recreações. E o que mais vejo são pais desesperados sem saberem o que fazer com as crianças; pais querendo arrumar qualquer maneira de terem os filhos distantes pelo máximo de tempo possível. Alguns alunos meus ficam o dia todo no colégio, em período integral. São crianças pequenas, na maioria, filhas de pais muito jovens.
O mais engraçado é ver como eles cobram de nós (professores e monitores) paciência, carinho e atenção com os filhos deles. E então oferecemos o melhor que podemos ser. Aguentamos as malcriações, pegamos no colo quando o choro estridente vem, olhamos nos olhos e tentamos entender os motivos, rimos com as brincadeiras, respondemos milhares de vezes a mesma pergunta, amarramos os cadarços embaraçados, cuidamos dos machucados, tocamos com cuidado prá não agredir, arrumamos os vestidos amarrotados pelo escorregador, prendemos o cabelo que desmanchou com a intensidade da baderna, falamos baixo prá poder ouví-los, nos permitimos conversas malucas sobre lápis de cores super heróis que salvam o mundo do dinossauro voador! E então o nosso tempo com eles acaba... devolvemo-os aos pais e... só o que vemos são puxões pelos braços para andarem rápido, berros e safanões, olhares esquivos muito mais preocupados com o horário da novela do que com a experiência que a criança acabou de vivenciar. Acho que estamos vivendo a geração de pais mais desesperados, inseguros e imaturos de todas. Ou não dão nada... o oferecem tudo em excesso. Criança também precisa ouvir não, precisa saber que a relação de pai e filho não é a mesma que de coleguinhas de escola. Eu vejo pasi fazendo mais birra do que os filhos, vejo filhos quase implorando por uma bronca... por um não... por uma palavra firme e um olhar certeiro. Criança tem nos pais a dimensão de segurança. Se os pais não têm segurança prá dizer um não aos filhos esses se vêm totalmente perdidos. E daí começam a série de traquinagens, palavrões, pirraças, comportamentos agressivos, olhares desafiadores. É a maneira que elas encontram prá chamarem a atenção dos pais, que só se movem quando o filho machuca ou faz alguma coisa muito grave. Então vêm as nomenclaturas tão equivocadas quanto o tipo de educação que os pais de hoje oferecem aos seus filhos. Se a criança é muito elétrica e agressiva ela é "hiperativa"... não é que ela não tenha a atenção devida, nem que ela não tenha espaço adequado para brincar e gastar energia, ou que ela passe o dia todo no computador ou na frente da tv, ou que assista as brigas e discussões frequentes dos pais, ou que não tenham com os pais a segurança de um "não" na hora que precisam.
Liberdade extrema, se mal colocada, prende muito mais do que um não bem usado.
Penso sempre na relação que tive com a minha mãe. Nunca levei um tapa e ouvi poucos "nãos"... mas sempre tive orientação na minha liberdade de escolha. Sempre ouvi as consequências que a minha escolha causaria... o que seria bom e o que seria ruim... e tive a opção de escolher se queria ou não aquele caminho. Sempre tive a paciência do "ouvir".. e olha que eu falo à beça... e fui uma criança daquelas que vão ao mercado vestidas de fada e se escondem nas araras de roupas para fugir do capitão gancho (que normalmente é a coitada da mãe que se divide entre as compras do mês e a procura pelo pentelho). Sempre pude contar com a presença dela nas minhas decisões, e nas suas consequências. Sempre ouve a cobrança pela boa nota, pelo respeito com os outros, pela tolerância com o diferente e pela postura nos lugares. Se aprendi bem eu não sei... mas tive e se segui por caminhos tortos foi por escolha e não por falta de orientação, segurança, carinho e atenção.
Observar os meus "filhos temporários", me faz pensar em que tipo de filho eu quero deixar para o mundo... e que tipo de mãe eu quero ser prá que isso não se torne desastroso. E eu descobri que quero ser uma mãe do tipo monitora de parque inflável!!!

Evoé!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Das Adaptações


Nesses últimos dois anos e meio eu tenho passado por várias coisas que fizeram com que eu tivesse que me adaptar e me readaptar a algumas situações. Umas foram fáceis, outras extremamente difíceis.
Primeiro tive que me readaptar a morar na casa dos pais, e por incrível que pareça é bem mais difícil do que sair. Reaprender a dar bom dia, a almoçar no horário, a dar satisfações, a não ser mais a visita sempre tão esperada.
Depois tive que me adaptar a ser namorada. Cuidar, zelar, respeitar, alegrar, às vezes sofrer um pouco. Me adaptar a avisar onde e com quem ia, a explicar quem era o amigo do facebook, a morrer de saudade, a ligar todo dia, a sorrir das bobeiras, a se encantar com o olhar, a ir a Limeira uma vez por mês. Me adaptar a dar e receber amor em troca, a abrir mão de certas coisas prá viver coisa maior. Tive que me adaptar a não sentir/demonstrar/querer aquele outro amor que há anos cuidava com tanta dedicação.
Veio também a morte do avô. Dolorosa, cofusa, turbulenta. Os seis meses sem teatro (que mais pareceram décadas, coisa vital que me é). Me adaptar à perda das duas coisas que mais me davam segurança: a proteção do meu avô e o meu amor ao teatro.
O susto passou, a dor também.
Precisei, então, me adaptar à faculdade e a frustração por não ser a Unicamp. Essa foi mais fácil. Amigos sempre ao lado, jantares com o Fá e a Ve, risadas, abraços, professores competentes, grade curricular bem planejada, trabalhos bacanas... passou voando e eu nem vi.
Me adaptei ao estágio e aos alunos (ou pelo menos tentei!). Oito meses depois, parido o resultado de dores e delícias, tive de me adaptar à saída do estágio e à ausência dos alunos.
Tempos depois e cá estou.
Me readaptando à vida de solteira (e como é difícil! Como tem sido difícil prá mim... embora surpreendente e divertido, mas doloroso e confuso!).
Tendo também que me adaptar à presença do padrasto em casa. Embora eu o adore... mas dividir o banheiro com um homem depois de uma vida inteira de toalhas sequinhas, chão limpinho, e tampas do vaso sanitário sempre abaixadas... é complicado!rs Vamos levando no bom humor.
E a mais linda, difícil, complicada, confusa, feliz e encantadora adaptação de todas... finalmente receber carinho de quem sempre amou. Receber afeto e afeição também é extremamente difícil quando não estamos acostumados, quando o que sentíamos antes era indiferença. Entender que agora pode ser mais leve e delicado é difícil. Me adaptar a não ter medo da partida, da repreensão pelo amor imenso e incondicional que não se pode conter.

A sensação é a de uma criança nos primeiros dias de aula.
Observo o território. Piso com cautela. Arrisco um olhar mais amigável. Me permito um sorriso, uma palavra mais espontânea. E logo menos a gente se adapta à adaptação!

"Aponta prá fé e rema!"

Evoé!... e que papai do céu me dê pés firmes prá seguir a caminhada.

Força e Coragem.

Vambora.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dia do Amigo



"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos .
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os."

(Vinícius de Moraes)


Aos meus amigos, que por ora se fazem poucos, alguns até mesmo ausentes, mas imensos na gratidão que lhes tenho, na importância que me fazem e no amor que lhes devoto!
Amigo é a família que a gente escolhe!
Evoé!!!

domingo, 17 de julho de 2011

Da Aprendizagem



Se eu pudesse resumir os últimos meses em uma única palavra seria APRENDIZAGEM! Uma aprendizagem intensa, por vezes dolorosa, mas essencial. Uma aprendizagem que veio da liberdade. Nunca me senti tão livre quanto nos últimos meses. É uma liberdade totalmente diferente da que eu sentia nos tempos de vida paulistana. Aquela outra era a liberdade física de estar longe dos olhos dos pais, liberdade de ir e vir, muito menos intensa e plena do que esta de agora. A liberdade que sinto agora é a de escolhas mais profundas, mais essenciais, mais inflexíveis e mais maduras. Liberdade de escolher caráter, opnião, companhia, conceitos, expressões, identidade. Liberdade de poder ser eu sem máscaras, sem medo, sem amarras, sem satisfações.

Aprender por essa liberdade está sendo uma das experiências mais profundas que já tive.

Por causa disso tudo tenho sentido vontade extrema de escrever... de escrever sobre tudo... sobre tanta coisa que as palavras se perdem e eu acabo não conseguindo escrever nada! Vamos com calma... começo é assim mesmo (deve ser!)... necessita calma, paciência, sossego.

Estou aprendendo a esperar o tempo que as coisas precisam prá se consolidarem. Uma planta não cresce da noite para o dia... precisa ser semeada, regada, cultivada com afinco para que gerar frutos consistentes. Quando cuidamos daquilo que queremos gerar com carinho e dedicação... um dia brota... isso vale pras coisas boas e para as ruins... então mais importante que aprender como cultivar eu estou aprendendo O QUE cultivar!!!

Estou aprendendo a rejeitar tudo aquilo que não me serve pro crescimento. Um não ao que prende os instintos, ao que moraliza, ao que preconceitua. Um não ao que machuca o outro, ao que agride, ao que maltrata, ao que causa dor e angustia, ao que se felicita com a ferida do próximo, ao que engana.

Descobrindo qual tipo de carater eu quero ter! E isso estou aprendendo principalmente observando atitudes que eu não quero ter!!! Eu não sei (e talvez eu nunca saiba) quem eu realmente sou em essência... mas estou descobrindo o que eu não sou (e nem quero ser) em caráter!

Aprendi que muitas vezes é preciso trocar de ares, reciclar o nosso ciclo de amizade, olhar para o lado (e prá cima e prá dentro principalmente), desapegar daquilo que não mais nos serve. Que algumas pessoas nunca vão compreender o que você pensa ou o modo com que você leva o mundo.... mas que se alguma delas não respeitar o que você pensa e o modo com que você leva o mundo... certamente não é alguém para se ter ao teu lado.

Eu descobri também que eu não preciso escolher extremos! Que eu posso ser um pouco calma e agitada algumas vezes. Que eu posso gostar de popular mas querer ouvir o erudito. Que eu posso preferir a noite mas querer aproveitar o dia. Aliás... eu estou aprendendo que eu posso querer!!! E que quando eu quero eu posso realizar...contanto que eu aja para que as coisas aconteçam e não pregue a bunda no sofá esperando o mundo dar um giro inteiro e jogar a oportunidade no meu colo enquanto assisto o programa do Faustão.

Estou aprendendo a lidar com a ausência, e também com a presença e com a saudade (que é a presença daquilo que está ausente, ou o contrário, ou mais).

Discernir sobre o que é bom ou ruim (não certo ou errado).

Aprendendo a me conformar com certas coisas que infelizmente têm de ser assim... mas também a "não acomodar com o que incomoda".

Coisas importantes que aprendi:

- A única lei que me rege é a de Newton (e que aquele lance de que "todo corpo tende a permanecer em repouso até que uma força o tire de tal situação" vale para qualquer tipo de força... desde um empurrão até uma vontade, um desejo, uma birra, uma pirraça). Do resto eu sigo o bom senso!

- A teoria da Relatividade é a única coisa não relativa nessa vida!

- Que as coisas são muito simples.. mas a gente gosta de complicar.


E estou aprendendo que a gente nunca para de aprender.

A vida é reticências, nunca ponto final






P.s: (pequeno desabafo madrigal) - Com tantos livros científicos/didáticos que tenho que ler (me tirando o encanto do romance, da ficção), com tantos textos objetivos e impessoais que tenho que escrever... a vontade de não ser tão pessoal por aqui escorre água abaixo!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Janta - Marcelo Camelo




Quando fala mais do que eu conseguiria escrever...


"Eu quis te convencer, mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente prá sentir saudade..."

...seguindo... =)

sábado, 2 de julho de 2011

Manifeste-se!!!


Contra Belo Monte (Morte)! Contra a extinção das nossas riquezas naturais! Contra a destruição dos povos indígenas do Xingu e comunidades ribeirinhas! A favor da vida! A favor da preservação e do respeito à cultura do nosso país!

Assine a Petição contra o Complexo Hidrelétrico Belo Monte:
http://www.avaaz.org/po/pare_belo_monte/


Sobre Cultura Indígena no Brasil:
http://www.kakawera.org/

Texto de Carlos Tourinho sobre o caso Belo Monte:
http://carlostourinhodeabreu.blogspot.com/2011/06/nacao-xingu-o-brasil-cada-vez-mais-se.html


Vambora!!!