quinta-feira, 26 de março de 2009

.Da Vocação...


"Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só o fervor mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas. E tem muita ferida porque as pessoas estão bravas demais,até as mulheres, umas santas, lembra?
Costurar as feridas e amar os inimigos que odiar faz mal ao fígado, isso sem falar no perigo da úlcera, lumbago, pé frio. Amar no geral e no particular e quem sabe nos lances desse xadrez - chinês imprevisível. Ousar o risco. Sem chorar, aprendi bem cedo os versos exemplares, não chores que a vida/ é luta renhida. Lutar com aquela expressão de criança que vai caçar borboleta, ah, como brilham os olhos de curiosidade. Sei que as borboletas andam raras mas se sairmos de casa certos de que vamos encontrar alguma... O importante é a intensidade do empenho nessa busca e em outras. Falhando, não culpar Deus, oh! por que Ele me abandonou? Nós é que O abandonamos quando ficamos mornos. Quando a vocação para a vida começa a empalidecer e também nós, os delicados, os esvaídos. Aceitar o desafio da arte. Da loucura. Romper com a falsa harmonia, com o falso equilíbrio e assim, depois da morte - ainda intensos - seremos um fantasminha claro de amor."

(Lygia Fagundes Telles)

domingo, 15 de março de 2009

.De mim...


Eu era menina ainda quando descobri minhas verdades e meus quereres.
Fui uma criança com amigos invisíveis e histórias fantásticas na cabeça. Uma cabeça de vento que lembrava algo de Narizinho e Doroty, mas sem reinos de águas claras ou homens de lata! A minha estrada de tijololos amarelos era furta cor... e minhas viagens iam do portão prá dentro.
Foi na infância também que descobri algumas vocações minhas. Descobri minha vocação prá encontrar pessoas boas, prá distinguí-las das más pessoas e para gostar de gente. Descobri uma vocação para o amor também, era eu menina de tranças mal feitas ainda quando pela primeira vez amei verdadeiramente. Tinha vocação para risadas e para olhar estrelas. Vocação para pés descalço e sonhos utópicos. Fui uma criança solitária que gostava mais dos livros que das pessoas. Aprendi a ler mais palavras que figuras desde bem pequena.. e então descobri como aquele mundo que eu tinha em mãos era mais interessante que este aqui em que me jogaram! Tinha um gênio insuportável.. embora tímida e muito quieta (era difícil confiar em alguém, me esconder era mais fácil. Quando essa confiança existia.. meu mundo também se abria e eu era uma tagarela!)... eu era uma criaturinha difícil de lhe dar. Difícil porque sempre sabia exatamente o que eu queria e como queria, sabia no que acreditava e na intensidade das coisas que eu sentia, era resmungona e valente, mas era no meu medo que se escondia aquela essência que não se vê. Como eu era medrosa! Tinha medo de escuro e de altura, medo de insetos e assombração, medo da perda e de ficar sozinha. Tinha medo de ser borboleta. Eu era.
Quando mais crescida, aprendi a ser mais sociável. Descobri a dança, a música, o teatro e a literatura. Era ainda nos livros que meu mundo era mais meu! E eu continuava com o gênio tão insuportável quanto de minha meninice! Porém, agora eu tinha argumentos mais justificáveis e contextos históricos para me apoiarem!!! Continuava também tão sonhadora quanto antes. Descobri novos amigos, que agora eram reais. Tinha, na escola, uma certa popularidade que incomodava. De certo não tinha vocação para isso! Fui uma menina um tanto esquisita. Enquanto os amigos iam para as "baladas", ouviam as músicas que tocavam "lá fora", assistiam os filmes de terror e "pegavam geral!'; eu ia pro teatro, ouvia Chico e Nara Leão em vinis que sobraram do frustrado casamento de meus pais (que já eram há muito separados!), assistia Almodovar e gostava dos clássicos, beijava só quando me encantava e mantinha uma paixão secreta pelo melhor amigo! Aos fins de semana, enquanto todo mundo ia a clubes e almoços em família, eu tinha ensaio e montagens de cena. Acordava cedo em pleno domingo, já pegava ônibus sozinha, conversava com gente adulta, e tinha amigos de 30 anos! Foi por isso também, que sempre tive problemas com namoricos! Como eu podia gostar de alguém da minha idade se só conhecia os garotos da minha sala? O caras com quem eu convivia, e certamente me apaixonaria mais tarde, eram todos mais velhos, todos homens quase feitos, inteligentes e bem arrumados. E gostavam de mim, sim, gostavam... talvez por vaidade ou desespero, sei lá... o certo é que gostavam. Mas eu ainda era menina e a maturidade que viam em mim, eu não tinha! Eu via o amor (eu vejo o amor!) como algo diferente do que me mostravam, idealista.. sempre tive essa coisa idealista.. com o amor, com minhas verdades, com meu modo de ver as coisas do mundo.
O tempo passou... passaram-se os amores, as brincadeiras joviais, festas de formatura, viajens inesquecíveis, amizades eternas, tardes de sol e noites de chavecos furados.
Fui adquirindo esse humor salgado, me livrando dos livros de auto-ajuda, conhecendo mais de mim, viajando para cidades de verdade, descobrindo gostos e cheiros diferentes, aprendi a amar com paixão e com tesão, aprendi a diferença entre paixão e tesão!, descobri que aqueles domingos acordando cedo e trocando os almoços em família por ensaios, me dariam frutos lindos e me faria chamar aquela brincadeira de PROFISSÃO!, conheci o amargo gosto de uma despedida, a dor que a saudade não consentida causa, a frustração de um amor não correspondido, a ferida que essa incorrespondência deixa e a tristeza de uma partida!
Parti!
Aprendi a lhe dar com dinheiro (e também o quanto eu não me dou muito bem com a situação!rs), a fazer minha própria comida, a me virar sozinha, a ter que me privar de algumas coisas para conquistar uma coisa maior.
Conheci a cidade grande e descobri o interior.
Deixei pessoas pelo meio do caminho. Fui por algumas pessoas deixada.
Amadureci as idéias e os desejos.
Tive noites de bebedeiras e arrependimentos tardios. Tive crises asmáticas e de consciência!
Me diverti, ri, chorei, fiz sexo sem amor, amei sem fazer sexo, fiz sexo amando!
Me conformei com verdades necessárias, me irritei com bobagens desimportantes, gritei, fugi, achei, voltei, me criei, reinventei.
Me fiz mulher!
Sim sim, uma mulhersinha pequena e menina, que agora brinca de verdade!
Gosto de coisas esquisitas, tenho amigos de todo jeito, sou inconformada e inconstante. Estudo, não gosto de química, me encanto com coisas bobas, ouço músicas que ninguém ouve, vejo filmes que ninguém gosta, vou a lugares que ninguém vai. Dou risada a toa, choro muito menos que antes. Choro por muito menos que antes. Sei dirigir carro e peça de teatro. Adoro viajar de onibus, me agrada cheiros suaves e gosto de mato! Perco tempo com bobagens, sofro quando não deveria, tomo as dores dos outros, tenho mil superstições, não tenho religião, acredito naquilo que me encanta. Confio menos nas pessoas, falo muito, me incomodo com pré julgamentos, não ligo para o que pensam de mim. Me importo, não me importo, não sei! Luto pelo que acredito e pelo que quero. Sou um sossego só. Tenho preguiça, adoro doces e sei beber sem ficar bêbada!
Assisto a todas as minhas aulas, estudo as matérias do dia, atuo, experimento, leio livros infantis (é, eu leio! ¬¬'), trabalho com teatro, vou ao banco, vou ao médico, marco minhas consultas, esquento minha comida, me alimento 5 vezes ao dia, escovo os dentes todas as vezes necessárias, tomo banhos bem tomados, bebo 2,5 litros de àgua diariamente, converso com meus amigos, levo uma vida social quase ativa, namoro, amo desesperadamente, falo ao telefone, viajo a Limeira vez ou outra, saio aos fins de semana, faço compras, leio obras literárias e jornais, sou filha, aluna dedicada, irmã mais velha, neta, bisneta, prima, amiga presente, namorada apaixonada, atriz e bailarina. Durmo. Medito, vejo meu orkut, respondo todos os emails, escrevo poemas e atualizo o blog!!! Meu dia só tem 24 horas!
Sonho, vejo as coisas de maneira bonita, acredito em felicidade.
Sou chata, ranzinza, resmungona e meu joelho esquerdo dói!
Amo demasiadamente muito, acho a pessoa amada a coisa mais linda desse planeta, sofro feito louca com a distância e tenho sorte à beça!
Não sei jogar , nem fatorar!
Tenho um coração maior que eu!
Gosto de andar, gosto de pés descalço encostando o chão.
Prefiro o ar!
Sei voar!
Sou borboleta... sou gente.. sou mulher...
Sou aquela mesma menina de tranças mal feitas!

terça-feira, 3 de março de 2009

.Intensa!.


Uma amiga me disse ontem, após contar prá ela sobre meu primeiro dia no cursinho e uma professora de literatura - sobre a aula de literatura ,aliás! - que eu sou "Intensa"!
Achei um tanto engraçado a princípio... eu? Intensa? Sou tão calminha.. miúdinha.. menininha.. mulherzinha.. Intensa me parece um adjetivo tão.. intenso! Tão digno de mulheronas.. meninonas.. grandonas! Sempre achei "intensa" um adjetivo tão forte... como que eu.. toda "inha" podia ser Intensa?
Oras, eu tenho sim, e sempre tive, um certo "fogo no zói" (como diria um amigo meu). Isso é certo.. apesar da pequeninês (palavra bunitINHA!rs)... sempre vi as coisas sobre lentes de aumento! Acho coisas poucas uma tremenda bobeira! Não tem graça sentir pouco.. fazer pouco.. saber pouco.. sempre gostei mais do "cheio inteiro" que do "metade cheio/metade vazio"!
Mas então.. fui digna de Intensidade!
Mas é que eu acho que comprar um livro do João Cabral de Melo Neto é um fato digníssimo, eu acho o amor que eu tenho um sentimento super nobre, eu acho a minha coleção de pedrinhas coloridas uma coisa explendorosa, eu acho as músicas estranhas que eu descubro por aí e que me fazem brilhar os olhos uma coisa incrível, o Anglo é bonitinhamente encantador, minha aula de Literatura é fantástica, e minha professora de literatura (ela parece uma formiguinha.. coisa mais rica!) é brilhantemente genial! E eu não acho, realmente, que isso seja coisa tamanha... é só a alma.. é o que transborda dela.. são as miudesas que aos meus olhos são gigantes!
Ninguém me entende! ¬¬'

domingo, 1 de março de 2009

Você tem sede de quê?


Ando com umas sedes insacíaveis; sede de arte.. sede de cultura.. sede de aprendizagem... sede de movimentação.. sede de mudança.. sede de descobertas... e nessa terra de calor intenso, ando com muita sede também de água fresca!
Não sei bem se sede ou fome... mas como água me soa (soa? eita palavrinha difícil!) mais vital.. fico com a primeira!
Quero sair por aí aprendendo tudo que tiverem prá me ensinar, e o que não quiserem me ensinar eu aprendo sozinha, afinal, como diz minha sábia mãe: "você não nasceu quadrada, se vira!"...
São tantas idéias nessa cabeça de vento que quase transbordam!
Eu quero poder misturar as coisas que gosto.. quero poder vivenciar mais de perto o que tanto me encanta os olhos... quero poder descobrir as coisas que estão escondidas por aí só esperando alguém encontrá-las.. como em um jogo de esconde-esconde.
Quero palavras simples.. quero pé descalço no chão.. quero poder voar (mesmo de mentirinha!).. quero aquilo que me engrandece a alma!
Sede! Sede! Sede!
Quero saciar!
Preciso!
Vou!
Voo!!!
Fui...